domingo, 14 de janeiro de 2007

Contos de Outrora - Maria sai da lata

Maria, sai da lata
Niceia K

Quando eu era criança, eu costumava encaixar meu rosto numa lata de óleo vazia. A Lata era dourada por dentro . Eu ficava horas, olhando meu rosto deformado, naquele improvisado caleidoscopio que tudo em ouro se transformava.
A boca, o narigão, as orelhas. E os olhos ? eu prestava tanta atençao neles, como que se fosse possível , ver e encontrar-me lá no fundo do olhar.
Fazia caretas, mostrava a língua e falava para ouvir o eco de minha própria voz. E a fantasia ganhava ares de espetáculo .
Daí eu montava os personagens; ora rindo, ora fazendo careta e dando vida ao meu mundo de faz de conta, cantando "Maria, sai da lata que no óleo tem barata".
Eu ficava maravilhada em ver-me dourada em techinocolor, como no cinema.
Quando eu respirava e cantava dentro da lata, ficava tudo embaçado eu limpava e continuava naquela viagem de cores , formas e ecos.
Por fora da lata, havia um rótulo com uma foto de mulher vestida em lenços coloridos e em destaque estava escrito MARIA .O que me intrigava era que neste rótulo tinha a foto da lata e eu pensava que na foto tinha outra foto da lata , que tinha outra foto, com outra lata com foto...que ia se repetindo , numa metalinguagem sem fim....
E eu me divertia com tão pouco...

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara Nicéia,

maravilhoso este conto.

Simples,nostálgico,imaginário e real simultaneamente.

Leila Strasser-Estética