NiceiaK
Nazareth, a Campeã :
" homenagem" a Bush e Lula
e ao programa ETANOL
De família nordestina, Nazareth, foi para o interior de São Paulo, levado pelo “gato” para ser bóia fria.
“Gato”, assim eram chamados os homens que iam até o Nordeste atrás de mão de obra semi-escrava para trabalhar nas colheitas de São Paulo.
O gato era sempre um nordestino que conhecia muito bem seus conterrâneos e deles tirava o proveito.
Nazareth trabalhava de fazenda em fazenda, ora cortando cana, ora catando algodão ou amendoim.
Conheci Nazareth, na colônia da fazenda de meu tio de uma maneira muito estranha.
A colônia dos camponeses era formada por várias casinhas muito simples geminadas, caiadas de branco. Na sala um banco de madeira e uma mesa, uma pequena cozinha com fogão a lenha e no único quarto, havia cama e rede para dormir.
Já era noite, quando meu tio foi chamado às pressas para resolver um caso urgente. Acompanhei meu tio que nem notou minha presença.
Quando chegamos na colônia, havia um amontoado de gente na frente da casa de Nazareth, uma senhora ainda muito jovem, recém casada.
Nazareth deitada na rede, gemia e se consorcia de dor. Já haviam dado a ela todos os tipos de chá e nada de melhorar.
Era um espetáculo de horror. Gemia, se arranhava, puxava os cabelos, dava impressão que ia subir pelas paredes.
A luz da lamparina distorcia as imagens dando um ar tétrico ás sombras refletidas nas paredes. As imagens iam se alongando, diminuindo, tremulando naquela penumbra.
E Nazareth continuava se retorcendo gemendo, gritando, quando alguém teve a idéia de ir chamar seu Lindolfo, um sitiante que morava a poucas léguas dali.
Seu Lindolfo, um senhor magrinho de pequena estatura, tinha fama de rezador e era sempre lembrado nos piores momentos.
E lá foi um voluntário montar o cavalo e sair em disparada em busca do Seu Lindolfo.
Não demorou muito, chega seu Lindolfo com uma garrafa com líquido incolor numa das mãos e na outra uma vela.
Pegou Nazareth, sentou-a em uma cadeira e pôs-se a rezar, a esfregar o líquido em seus pulsos e deu para ela cheirar. A vela era para melhor iluminar.
Eu olhava aquilo incrédula! que poder teria aquele homem, com aparência tão frágil, perante os urros de Nazareth?
E vai, e reza, e cheira e esfrega, se benze, e sacode. Não deu outra, nada melhorava seu desespero.
Uns falavam em encosto, outros em fingimento e nada adiantava, Nazareth só piorava.
Horas se passaram, alguns foram dormir, outros ficaram de plantão. Seu Lindolfo entregou os pontos e saiu se desculpando pelo fracasso.
Meu tio obrigou-me a ir embora para a Sede, pois não era lugar, nem hora de criança, apesar dos meus 14 anos, estar por ali.
Fui embora, e fiquei pensando: Será que Nazareth não está abortando? Ou então não estaria com cólicas menstruais? Ou Cólica de rim?
No dia seguinte fico sabendo que depois de tanta reza e chá, chamaram Dona Ester, a parteira, que finalmente pôs fim ao sofrimento de Nazareth.
Era um aborto.
Nazareth grávida de três meses, era campeã no corte de cana, título conquistado na véspera, quando cortara 12 toneladas de cana de açucar e vencera uma dezena de homens.